A Máquina 2.0 tem o orgulho de anunciar que o artigo escrito por nossos colaboradores André de Abreu e Larissa Squeff está na capa do Nós da Comunicação.
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O Twitter e o cargo público
Larissa Squeff e Andre de Abreu
O último levantamento do Politweets aponta que 391 políticos eleitos no Brasil já aderiram ao Twitter. O número não representa a parcela de políticos presentes na rede de microblogging, visto que muitos estão sem mandato e concorrem ao pleito neste ano. Além disso, há centenas de vereadores nas mais de seis mil cidades brasileiras que ingressam na rede sem se identificar como tal.O desafio é ser ouvido: escândalos afastam cidadão da política
A principal função do Twitter na política é aproximar quem quer falar de quem quer ouvir e o grande desafio é ser ouvido. Com um sistema político complexo e de difícil compreensão para quem não tem intimidade com o tema, uma sucessão de escândalos envolvendo toda a sorte de partidos, o desinteresse pela política brasileira é um fato que assusta e cria um perverso círculo vicioso no qual a maioria das pessoas simplesmente detesta política e políticos. Todos são iguais, é comum ouvir, levando ao raciocínio de que a escolha, no fundo, não faz diferença – uma constatação que em última instância ameaça a própria democracia.Relacionamento no Twitter não termina com a campanhaRelacionamento em redes sociais não é como campanha, que tem começo e fim. É um trabalho que não possui prazo para terminar, o que é muito positivo – assim espera-se, visto que ainda não vivenciamos a era do Twitter no pós-eleições e não sabemos como será o comportamento dos hoje candidatos, amanhã eleitos.Equipe: Barack Obama conta com a deleHoje é tolerável e compreensível que o político conte com um grupo de pessoas que o auxilie na gestão do Twitter. Até Barack Obama deixou claro recentemente que possui uma equipe para isso. Afinal, demandas podem chegar a qualquer momento, inclusive sábados, domingos, feriados e madrugadas. E o político sério e comprometido com sua função, não poderá estar à disposição de tuitar por longos períodos, todos os dias, atendendo a todos.web já nestas eleições, mas em virtude da já descrita descrença da população em relação à política brasileira, os candidatos não esperam coletar grandes volumes de dinheiro com a nova fonte de arrecadação. Pelo menos por enquanto.
Hoje, uma boa campanha on-line requer argumentos consistentes e interessantes para quem tuita e usa as redes sociais (político ou assessoria), linguagem apropriada e timing correto.Larissa Squeff é estrategista de política em mídias digitais e redes sociais da Máquina Public Relations.Andre de Abreu é gestor da Máquina Web, unidade de mídias digitais e redes sociais da Máquina Public Relations, e membro do COM+, grupo de pesquisa em Comunicação, Jornalismo e Mídias Digitais da ECA-USP.
Não há como negar, no entanto, que a cada dia, o Twitter ganha novos adeptos na política – seja para quem a faz diretamente ou simplesmente se interessa por ela – e que a ferramenta vem se consolidando como instrumento necessário para o exercício de qualquer cargo público. É uma maneira fácil e rápida de disseminar uma mensagem, socializar uma agenda, divulgar um espaço (blog, site, endereço em redes sociais) e estreitar o relacionamento com a população, permitindo que ela possa acompanhar o dia a dia de seus eleitos.
O Twitter é, portanto, um facilitador para o encontro entre eleitor e eleito (ou postulante ao cargo). Não se trata de uma ferramenta que faça ganhar eleição, mas pode ajudar um candidato a perdê-la para um concorrente que esteja mais próximo do seu público, usando a rede de microblogging.
A esperança é que o Twitter – ainda não se sabe o real potencial transformador da ferramenta – possa fazer com que os eleitores estejam mais abertos a ouvir quem tem o que dizer sobre política.
O sucesso da dinâmica desse contato exige tempo e dedicação. Portanto, uma estratégia de atuação política neste espaço vai muito além dos cinco minutos necessários para criar uma conta na rede de microblogging. É preciso ter um bom conteúdo para conquistar e manter os eleitores-usuários.
Para que possa ser útil para a política e para a democracia, o Twitter exige relacionamento transparente e engajamento de ambas as partes: sociedade e políticos.
Com o passar do tempo, a tendência é que os laços entre eleitor e eleito fiquem mais fortes, reduzindo o déficit democrático de nosso atual sistema político e promovendo a necessária participação da população nas decisões do seu representante durante todo o mandato.
O olhar para uma rede planejada e sólida poderá oferecer ao político um grande panorama das necessidades e anseios do pensamento público. Isso permitirá realizar consultas rápidas antes de uma resolução, a participação popular em projetos ainda em discussão ou ainda corrigir os rumos de algo já decidido. A pressão popular via Twitter tende a crescer e ganhar rumos ainda desconhecidos.
Tudo isso, do ponto de vista da comunicação e da estratégia política, exige um plano de implantação e, mais do que tudo, de manutenção em longo prazo.
O fato de contar com uma assessoria, não significa, entretanto, que o político deva estar alheio ao que se passa na rede, relegando somente à sua equipe a função de se relacionar com seus eleitores. Além disso, é recomendável para manutenção da confiança recíproca, que o eleitor saiba que muitas vezes será a assessoria quem dará as respostas aos questionamentos.
Os principais candidatos à presidência da República já estão no Twitter, seja com perfis próprios ou com perfis facilmente identificados como sendo alimentados pela assessoria ou apoiadores. Além de saberem da importância da ferramenta para a comunicação, os pré-candidatos estão em busca da aproximação com a juventude, público presente em massa nas redes sociais, e também de um componente que pode vir, em longo prazo, mudar a estrutura das campanhas brasileiras: as doações via web.
Um dos principais diferenciais da campanha de Barack Obama, cuja equipe usou com maestria as redes sociais, foi sua arrecadação. Obama conseguiu mais de 85% do montante arrecadado com pequenas doações de pessoas comuns; muitas fizeram a doação via Internet. A legislação brasileira passa a tornar legal a doação via
Embora seja uma ferramenta veloz, com centenas de milhares de novas mensagens sendo enviadas por segundo, o Twitter não pode ser usado com descaso. Uma informação postada ali poderá ser replicada diversas vezes até que encontre alguém que concorde com ela, a conteste ou a complemente. Logo, escrever bobagem ou mentir no Twitter vai resultar em prejuízo e bem rápido.
A forma de discurso também precisa ser convincente e de acordo com o público que se está tentando acessar. Linguagem muito rebuscada ou burocrática não surtirá efeito num público jovem; por outro lado, erros de português e abreviações como ‘kde’ (em vez de cadê) tiram credibilidade do candidato.
O tempo é outro fator determinante para o sucesso ou o fracasso das mensagens. Um assunto que foi tema no Twitter na semana passada, só pode voltar à pauta se houver alguma novidade que justifique ressuscitá-lo. Por outro lado, um caso atual, se colocado no Twitter no timing correto, pode ser um grande impulsionador de seguidores.
O uso do Twitter como ferramenta eleitoral, portanto, requer estratégia e cuidado. Criar um perfil e nunca mais alimentá-lo depois de ganhar a eleição pode ser um erro imperdoável, assim como postar apenas agendas e encontros realizados durante a campanha. O usuário quer mais do que isso.
Uma equipe de comunicação afinada com as tendências e ideologias do candidato é um ponto de partida importante. Mas as palavras usadas são fundamentais, pois, como diz um provérbio atribuído ao Islã: a palavra falada é como abelha: tem mel e ferrão.
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